Detalhes : Parabéns Teatro Thalia


Faz hoje 154 anos que foi inaugurada em Alhandra a sua primeira sala de teatro, o Theatro Thália, situada no largo do Termo junto à estação do caminho de ferro.
Esse largo já não existe, e hoje o teatro está no mesmo local e a sua frontaria dá para a Rua França Borges números 42, 44 e 46. As portas, telhado e interior já não são os mesmos. 
O Theatro Thália tinha 40 camarotes e 300 lugares sentados, e foi aberto ao público em 25 de Março de 1865 pela mão de João Salvador Marques da Silva. Este famoso homem de teatro nasceu em Alhandra em 1844, e estudou no seminário de Santarém e na escola Médica junto de Sousa Martins. Por problemas de saúde do seu pai regressou à vila e aí viveu alguns anos, dedicando-se à política e ao teatro. Foi eleito vereador da Câmara de Vila Franca de Xira nas eleições de 1869 e redactor do jornal “O Ribatejo”, publicado na mesma vila. De volta a Lisboa, foi jornalista e escritor no jornal que fundou em 1876 junto com João de Almeida Pinto denominado «Toureiro».
Criou ainda no mesmo ano um outro periódico, “O Contemporâneo”, dedicado à actividade teatral. Em momentos diferentes da sua vida foi empresário dos teatros dos Recreios e dos Condes, do teatro Avenida, Príncipe Real e Rato e ainda Director literário das empresas dos teatros D. Maria II, Ginásio e Rua dos Condes. Ainda em vida, assistiu à inauguração da nova sala de teatro de Alhandra, o Theatro Salvador Marques, inaugurado em sua homenagem a 7 de Abril de 1905, tendo falecido em Lisboa em 1907. Os espectáculos no seu teatro do Largo do Termo, representavam um polo de cultura que se distanciava das festividades populares
No seu palco actuavam inúmeras e importantes companhias de teatro portuguesas e estrangeiras.

“O sarau de Cacheou-Ópera cómica de Offenbach”, representa amanhã, domingo, no Theatro de Alhandra, uma companhia dramática de Lisboa e com ela um espectáculo de prestigiação do célebre artista Freitas de Gazul, que tantos aplausos tem colhido em todas as terras de Portugal”

“Domingo houve récita de curiosos em Alhandra (...) e na peça que representavam cantou-se no início e no fim o hino nacional francês. Tocou-se, pois, a Marselhesa, e isto sugeriu a ideia de dizerem que no Theatro de Alhandra se deram vivas à República, pedindo o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira providências ao Sr. Governador Civil de Lisboa contra a falta de polícia no concelho”

As festividades do Carnaval em Alhandra terão estado também ligadas ao Theatro Thália. Sobre o Carnaval de 1887 (este terá sido o primeiro Carnaval da vila), o jornal “Campino” noticiou:

O Carnaval correu pelas ruas sensaboronas. As máscaras, poucas e quase sem graça. Em Vila Franca e Alverca muitas reuniões familiares, quase todas muito animadas. (...). Em Alhandra teve primazia o baile masquée

Neste teatro eram também estreadas peças originais de Salvador Marques.
As suas obras continham fortes mensagens sociais e políticas, as quais denunciavam o seu autor como sendo um homem consciente das profundas mudanças de mentalidades que a sociedade do seu tempo protagonizava.

Na primeira cena do acto 3 do drama “Os Campinos”, obra basilar do percurso do dramaturgo escrita em 1874, pode ler-se o seguinte diálogo a propósito do casamento de uma condessa com um emigrante brasileiro novo-rico.

 D. António pai da condessa:
“Nesta época em que a torrente das novas ideias pretende apagar e submergir os vestígios da nova sociedade, saibamos todos nós, os representantes desse mundo que desmorona, os herdeiros de gloriosas tradições do passado, conservarmos-mos firmes no nosso posto. Padre Manuel--- (...) cada época tem os seus princípios (...) A nobreza antiga comprou os seus títulos pelos feitos das armas; era essa a índole do tempo. Hoje ganham-se as honras nas lides do trabalho e nas conquistas da inteligência. A união das duas nobrezas é o braço do presente ao passado, sem nenhuma perder um ápice da sua dignidade”

Salvador Marques constitui um forte   influência do seu tempo. Terá sido ele o grande impulsionador da liberalização da cultura junto da população da vila, quer pelo seu pulso, quer influenciando as práticas culturais nos membros da elite letrada. Instruindo os alhandrenses através da diversão, usa as artes Thálias como meio de divulgação dos valores da civilidade. Na sequência da existência em Alhandra de uma companhia teatral com o nome inspirado na musa Thália, surge pela mão de um poderoso homem da vila, Joaquim Domingos da Silva, uma companhia musical que recebe o nome da irmã musa, Euterpe. Segundo a tradição, a fundação da Sociedade Euterpe Alhandrense, ou o grupo musical que lhe dá origem, terá ocorrido a 1 de Dezembro de 1862. 

Fontes:
Museu Dr. Sousa Martins de Alhandra e Boletim Cultural Cira 10 Câmara Municipal de Vila Franca de Xira por Cristina Amaral




Texto de João Bernardino Padinha








Comentários